Então minha tradicional gripe-dor de garganta-rinite de fim de outono chegou e escrevi um leite com gengibre caramelizado e canela. Não me lembro se a versão que ele fez tinha gengibre, mas quem me deu a inspiração inicial, que é o açúcar derretido como base, foi o tio Sandro, quando eu andava perdida por São Paulo e de vez em quando batia na porta dele pedindo carinho de família. Na nossa família, carinho sempre veio em forma de comida, e uma vez ele me fez esse leite quentinho com cheiro de pão de mel pra melhorar minha garganta. A magia é ter chegado o gengibre, ter atravessado o continente, e a receita agora ser minha, mas com raiz na dele. Teve também a vez em que ele me jogou uma sopa de vó como boia de salvação de um mal estar generalizado causado pelas primeiras semanas sobrevivendo em São Paulo e comendo fora todo dia. Eu nem gosto de sopa de vó, mas não esqueço daquela. Vai ver é porque era sopa de tio. Essa eu nunca arrisquei reproduzir.
Acho que é tão legal ter o poder de criar histórias com sabor e textura. Que a cozinha tem muito mais camada que um bom texto. E me desestressa muito mais que escrever. É tão bom a gente ter que criar o que comer todo dia.
Esse texto ficou com cheirinho do leite quentinho com canela e gengibre. Nuna tinha ovuido falar nele enquanto morava em SP, mas aqui em Minas ele é apelidados de queimadinho. Mas sempre que vi faerem não levava canela nem gengibre